Dando continuidade à série “Vozes do ESG”, tivemos a honra de conversar com Cristovam Ferrara, diretor de Valor Social da Globo. Com uma trajetória marcada pela liderança e compromisso com a educação, Cristovam compartilhou insights valiosos sobre a importância do ESG nas empresas. Nossa conversa abordou desde a responsabilidade social corporativa até os desafios globais que enfrentamos, oferecendo uma visão abrangente e estratégica sobre o futuro das organizações em um mundo cada vez mais pautado pela sustentabilidade.
Cristovam Ferrara é Administrador, especialista em responsabilidade social e cidadania global, com cerca de 20 anos de experiência em liderança de áreas comerciais, marketing e valor social. Acumula passagens marcantes pela Vivo, Coca Cola e 13 anos de experiência em educação, tendo ocupado posições à frente de equipes no Brasil e na América Central nos grupos Laureate e Ânima Educação. Faz parte do Conselho Consultivo do Movimento Educa2030 do Pacto Global da ONU e do Conselho Curador da Fundação Roberto Marinho. Na Globo, é um dos responsáveis pelo Movimento LED – Luz na Educação, o principal projeto do segmento na empresa, além de liderar o time responsável por todas ações de Responsabilidade Social da companhia. É líder do #6 compromisso da Agenda ESG da Globo, sobre educação como vetor de transformação do país.
A seguir, confira a íntegra da conversa que tivemos com Cristovam e inspire-se.
Você tem uma vasta experiência em liderança e gestão de equipes em diversos mercados. Como essa experiência influenciou sua visão sobre ESG e responsabilidade social nas operações da Globo?
A experiência em liderança e gestão de equipes me ensina todos os dias que nada é criado sozinho. Isso reforça a importância de descentralizar o poder e as decisões, acreditando na força do coletivo. Quando a gente propõe uma governança ESG, pensando em trabalhar uma governança descentralizada, atribuindo a responsabilidade da agenda para todas as áreas da empresa em um formato multidisciplinar, envolvendo pessoas diversas e de diferentes cargos hierárquicos, é possível colaborar para essa construção com diferentes olhares para a pauta, criando uma competência transversal da organização e não uma competência única de uma diretoria.
Como você vê o papel das empresas na promoção de responsabilidade social e no enfrentamento de desafios globais, como a desigualdade e as mudanças climáticas?
O papel das empresas é fundamental, porque não adianta responsabilizarmos somente o governo ou a sociedade sem pensar que as empresas têm uma contribuição em todo esse arcabouço. Nesse sentido, temos que pensar que as empresas tem esse papel em diversos momentos como, por exemplo, na qualidade de empregador, com salários justos, benefícios e as condições dignas oferecidas, e pensar também na responsabilidade quando falamos do seu core business. Nesse ponto, quero trazer a Globo quanto empresa de comunicação e o seu papel dentro da Agenda ESG. A Globo, por meio do seu conteúdo, promove debates sobre direitos humanos, racismo, educação, crise climática, entre outros assuntos, gerando conversas sobre temas fundamentais para a sociedade além das telas. E toda empresa, de acordo com a missão e os valores estabelecidos, pode pensar para além do seu core business e atuar para além dos seus resultados, pensando em sua formação de marca. Atributos que cada companhia quer estabelecer ao seu próprio negócio e deixar de legado para o mundo.
Na sua visão, como a implementação de práticas ESG pode contribuir para a sustentabilidade e o crescimento das empresas a longo prazo?
Estamos vivendo um cenário de grande ameaça do futuro. Se as empresas não se conscientizarem e não aplicarem o seu papel na sociedade, estamos fadados a um amanhã tenebroso onde não poderemos nem conceber a ideia de próximas gerações. As empresas precisam ter a consciência da importância e da urgência da Agenda ESG, como um dos elos fundamentais da sociedade. A evolução ocorre quando as empresas adotam práticas mais sustentáveis e assumem a responsabilidade por toda a sua cadeia produtiva e pelos impactos gerados ao longo do ciclo de vida de seus produtos. Garantir que toda a trajetória dos insumo de produção, desde a fabricação até o descarte consciente do resíduo, seja feito da maneira mais sustentável possível. Só a partir desse grau de responsabilidade vamos conseguir planejar um futuro para nossa geração.
Na sua opinião, quais são as causas sociais mais urgentes que o Brasil enfrenta atualmente e como elas se relacionam com a agenda ESG?
Acredito que as causas sociais mais urgentes no Brasil envolvem o combate à desigualdade e à pobreza, além da busca por equidade racial, de gênero e para todos os grupos sub-representados da nossa sociedade. Além, claro, uma educação mais justa e igualitária, pois é o caminho para criar oportunidades iguais para todos. Esses desafios estão profundamente conectados à agenda ESG, que promove uma abordagem integrada entre sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança.
Temos também que pensar nas questões socioambientais, principalmente vivendo em um contexto de crise climática global. O Brasil vem desempenhando papel fundamental como um país estratégico no cenário de mudanças climáticas, tanto pela sua biodiversidade quanto pelo seu potencial na transição energética. Nosso país tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e sendo referência em diversas áreas como, por exemplo, biocombustível. Por isso, é importante alinhar desenvolvimento econômico com a preservação ambiental.
Como foi o processo de adoção de práticas ESG na Globo?
O compromisso da Globo com os pilares da Agenda ESG é histórico, assim como seu compromisso com o futuro do Brasil e dos brasileiros. Os temas ambientais, sociais e de governança sempre permearam nossos conteúdos e iniciativas com o objetivo de contribuir com importantes discussões para a sociedade. Em 2021, a Globo sentiu que precisava estruturar sua agenda ESG e montou um grupo de trabalho com cerca de 100 profissionais e especialistas da empresa, de diferentes cargos e áreas. A ideia de criar esse grupo multidisciplinar era fazer um raio-x da empresa e, por meio de uma escuta, identificar quais pilares deveriam ser abordados na agenda. Squads temáticos foram criados e cada um foi responsável por um dos seis compromissos assumidos: #1- Impacto Social do Conteúdo; #2- Diversidade e Inclusão; #3- Desenvolvimento e Bem-estar dos Colaboradores; #4- Biodiversidade & Consciência Ambiental; #5- Governança Transparente e Responsável e #6- Educação. Além desses, temos também squads transversais que acompanham os demais grupos de trabalho. Em 2022, lançamentos o nosso primeiro Relatório de Sustentabilidade e já estamos em nossa terceira edição no material com resultados e metas bem descritas.
Considerando o papel das empresas na construção de uma sociedade mais justa, quais passos concretos você vê a Globo tomando para contribuir nesse sentido?
Há quase 60 anos, a Globo contribui com importantes pautas que geram reflexão na sociedade, seja por meio do seu conteúdo na dramaturgia, no entretenimento, no jornalismo, e no esporte, se aproximando das questões cotidianas do Brasil e do brasileiro. Além disso, por meio de projetos proprietários, também gera debates importantes como, por exemplo, o Festival Negritudes, que acontece desde 2022 e celebra a presença negra no audiovisual. E também o Festival LED, que só esse ano, em sua 3ª edição, reuniu 8 mil pessoas em dois dias de evento no Rio de janeiro e trouxe à tona discussões sobre a importância da educação do presente para o futuro. A Globo também mobiliza seu público através de diferentes campanhas ao longo do ano que fomentam a conscientização e o engajamento social.
Como você imagina o futuro do ESG no Brasil e no mundo nos próximos 10 anos? Quais serão os maiores desafios e oportunidades?
Diferente do que muitas pessoas têm dito, eu não acredito que ESG seja moda ou que seja passageiro. Independentemente da nomenclatura que vamos usar, porque os nomes podem mudar e evoluir, pensar para além dos resultados unicamente financeiros das empresas é uma tendência que veio para ficar. A maior prova disso é que as novas gerações estão cada vez mais exigentes com o compromisso das empresas com a Agenda ESG. A juventude está disposta a abrir mão de consumir produtos ou serviços de empresas que pensem apenas em seu próprio resultado e não no bem comum, ou que não trabalhem para minimizar e mitigar os impactos gerados pelo suas produções. Então, daqui 10 anos vai continuar tão forte quanto está hoje. Mais desenvolvido, com práticas mais bem estabelecidas, mais maduro do que vemos hoje. Do ponto de vista de diversidade, vamos ver empresas mais diversas, com quadros de colaboradores que representem a sociedade, por isso, a importância da representatividade dentro das organizações. Eu sou um otimista!
Que entrevista incrível, não é mesmo? Não esqueça de compartilhar no seu Linkedin para que mais pessoas vejam esses insights tão importantes sobre o ESG.
Fernanda de Carvalho é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Mestre em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também estudou na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo de Vida Selvagem. Dedicou parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental na Suzano S/A e como Consultora de Comunicação da Ocyan S/A. É conhecida no setor florestal pelos artigos publicados nos blogs Mata Nativa e Manda lá Ciência.
PARABÉNS PELO EXCELENTE TRABALHO!
Fernanda, que importante ter feito essa entrevista!. Seu conteudo é relevante e tem força de replicação. Muito bacana direcionar para formas do ESG dialogar com metas globais na area da educação!