
Sempre que ocorre um fato novo ligado ao ESG, os “pessimistas de plantão” já se antecipam em dizer que o ESG está com os “dias contados”.
Dessa vez, o que fomentou essa discussão foi a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris por meio de um decreto presidencial de Donald Trump, em 20 de janeiro de 2025.
Os riscos não poderiam ser maiores para o planeta e a capacidade da humanidade de se adaptar às mudanças climáticas e ao custo crescente de desastres relacionados ao clima.
O que é o Acordo de Paris?
Em 2015, mais de 190 países se reuniram em uma cúpula climática das Nações Unidas em Paris e aprovaram o que ficou conhecido como Acordo de Paris, ou Acordo Climático de Paris, para limitar o aquecimento global abaixo de dois graus Celsius, mas de preferência a 1,5 graus.
O consenso foi dividido entre os países sobre se a meta deveria ser de 1,5 ou dois graus. O limite inferior foi o sugerido pelos cientistas do clima e, em última análise, foi adicionado ao texto como um ideal, em vez da meta formal do acordo.
Mas, desde então, a mudança climática acelerou e o planeta está aquecendo em um ritmo que nem mesmo os cientistas previram. As evidências de que a capacidade da natureza e da humanidade de se adaptar ao aquecimento global cairá significativamente aumentaram nos últimos anos, isso se o planeta sofrer um aquecimento acima de 1,5 graus.
Embora a adoção do Acordo de Paris tenha sido um momento marcante e colocado o mundo em um caminho apoiado pelos cientistas, ele não foi específico sobre como os países devem atingir suas metas.
A resolução não é vinculativa; os países não são obrigados a reduzir sua poluição climática sob a lei internacional. As nações definem suas próprias metas de poluição e métodos para alcançá-las.
Não foi a primeira vez que os EUA saíram do Acordo de Paris.
Em seu primeiro mandato, iniciado em janeiro de 2017, o então presidente norte-americano Donald Trump protocolou a saída de seu país do Acordo de Paris em junho daquele ano. No entanto, os regulamentos das Organizações das Nações Unidas (ONU) previam que uma saída somente poderia ocorrer três anos após o início do acordo global, o que somente foi possível em 4 de novembro de 2020. Curiosamente, caiu justamente no período em que ainda se estavam apurando os votos da eleição presidencial, na qual Trump foi derrotado para Joe Biden.
Na prática a saída vigorou apenas alguns meses, devido a posse de Joe Biden, eleito com a promessa de reduzir as emissões de gases estufa no país e de combater as mudanças climáticas em parceria com outros países. No mesmo dia em que chegou à Casa Branca, o democrata anunciou o retorno dos EUA ao Acordo de Paris.
Por que os EUA novamente saíram do Acordo de Paris?
Conhecido por sua postura de flexibilização regulatória e apoio ao setor de combustíveis fósseis, Trump prometeu uma linha dura CONTRA restrições ambientais, o que preocupa especialistas e ambientalistas. Como a maior economia do mundo e a segunda emissora de gases de efeito estufa, as decisões dos EUA terão impacto direto na luta global contra as mudanças climáticas.
“Os riscos dessa saída são dois: o primeiro é que os EUA não se desconectem completamente, com o Departamento de Estado ainda podendo atrapalhar as negociações; o segundo é que isso possa causar uma reação em cadeia, levando outros países a sair, o que enfraqueceria o esforço multilateral”, avalia Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima.
“Trump tem uma péssima relação com a agenda do clima, e péssimas realizações. No documento de campanha, ele diz que um dos objetivos é abandonar essa agenda. Teremos um governo de um país superpoderoso batendo de frente com a agenda do clima”, aponta Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Por que alguns analistas acreditam que a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris não prejudica as metas climáticas?
A saída norte-americana do Acordo de Paris não deve interferir nas metas globais, uma vez que o país nunca esteve comprometido com o acordo, avalia Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, rede de entidades ambientais da sociedade civil brasileira.
“Nunca foi a vontade dos Estados Unidos estar nesses processos. E eles sempre atrapalharam”, diz. “É bom lembrar que esta é a segunda vez que o país deixa o acordo. A primeira retirada aconteceu em 2017, também no governo de Donald Trump. Os Estados Unidos sempre foram um parceiro problemático nas negociações multilaterais de clima. Eles ameaçaram não assinar a Convenção do Clima em 1992, eles implodiram o Protocolo de Kyoto em 2001”, enumera Angelo.
A decisão veio poucos dias depois da confirmação da Organização Meteorológica Mundial (OMM) de que 2024 foi o ano mais quente já registado. O recorde de temperatura reforça a urgência das estratégias de redução de emissão gases poluentes, causadores do aquecimento global, como o dióxido de carbono (CO2).
André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), avalia a decisão como um atraso para uma agenda climática já pouco ambiciosa. “E no momento em que deveríamos aumentar essa ambição, cerca de 20% a 25% das emissões [de gases poluentes] do planeta Terra, vindas dos EUA, saem da mesa de discussão”, aponta.
E qual o impacto da saída dos EUA do Acordo de Paris sobre a Agenda ESG?
Para Ani Dasgupta, presidente e CEO do WRI, a saída dos Estados Unidos não diminui a relevância do acordo. “O Acordo de Paris continua sendo tão essencial quanto sempre foi. As negociações da ONU sobre mudanças climáticas são a única plataforma em que todas as nações têm voz ativa no combate a um dos maiores desafios do nosso tempo”, diz.
Dasgutpa avalia que, com a saída, os Estados Unidos perdem influência política e econômica diante de outras potências signatárias do pacto. “Ficar à margem também significa que os EUA terão menos capacidade de responsabilizar outras grandes economias pelo cumprimento dos seus compromissos”, avalia.
Para Angelo, a saída anunciada por Trump pode resultar em maior comprometimento dos demais signatários do pacto. “Acho que eles têm que sair do acordo e sair do caminho. Porque aí, quem sabe, o mundo vai conseguir lidar com essa realidade, que a gente tem se recusado a encarar até agora, de que a gente vai ter que lidar com mudança do clima sem os Estados Unidos”, ressalta.
Dessa forma, é bem possível que os impactos negativos não sejam tão grandes e isso também tem a ver com a Agenda ESG. Até porque o ESG não é uma moda passageira e existem razões para se pensar assim. Em meu novo livro, ESG Marketing (a ser lançado em 2025 pela Editora Alta Books), peço para refletirmos sobre as observações a seguir:
· Como deixar de considerar a DIMENSÃO AMBIENTAL na estratégia empresarial e governamental, após diversos eventos climáticos que provocaram grandes perdas econômicas às empresas e regiões de diversas partes do mundo?
· Como não considerar a DIMENSÃO SOCIAL, após todas as transformações sociais das últimas décadas, bem como o empoderamento de diversos atores sociais (empoderamento das chamadas minorias, empoderamento das mulheres, empoderamento do consumidor, empoderamento das redes sociais, entre outros)?
· Como fechar os olhos para a DIMENSÃO GOVERNANÇA, em temas tão sensíveis e importantes como ética, transparência, prestação de contas, gestão de riscos, compliance, códigos de conduta, conformidade, entre outros?
Mesmo que haja algum uso político do ESG, suas três dimensões permanecerão durante muito tempo como foco de discussão em nossa sociedade, gostem ou não os “pessimistas de plantão”.
Fontes consultadas:
AGÊNCIA BRASIL. Aquecimento global: EUA abandonam oficialmente o Acordo de Paris. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2020-11/aquecimento-global-eua-abandonam-oficialmente-o-acordo-de-paris>. Acesso em: 25 jan. 2025.
ALVES, Ricardo Ribeiro. ESG Marketing. Rio de Janeiro: Editora Alta Books, 2025 (previsão de publicação).
BRASIL DE FATO. Saída dos EUA do Acordo de Paris não prejudica metas climáticas, avaliam especialistas: “sempre atrapalharam”. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2025/01/21/saida-dos-eua-do-acordo-de-paris-nao-prejudica-metas-climaticas-avaliam-especialistas-sempre-atrapalharam>. Acesso em: 21 jan. 2025.
CNN BRASIL. O que é o Acordo de Paris e por que os EUA saíram? Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/o-que-e-o-acordo-de-paris-e-porque-os-eua-sairam/>. Acesso em: 21 jan. 2025.
G1. EUA voltam oficialmente ao Acordo de Paris sobre o clima. Disponível em: < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/02/19/eua-voltam-oficialmente-ao-acordo-de-paris-sobre-o-clima.ghtml>. Acesso em: 25 jan. 2025.

Bacharel em Administração, Mestre e Doutor em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), com pós-doutorado pela Universidad de Zaragoza, Espanha. Professor do mestrado acadêmico em Administração, do curso de Engenharia Florestal e do curso de Bacharelado em Gestão Ambiental da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Rio Grande do Sul. Autor de 14 livros publicados, dentre eles, “A Força do ESG” (Editora Alta Books), “ESG: O presente e o futuro das empresas” (Editora Vozes) e “ESG Marketing” (Editora Alta Books, a ser lançado em 2025).