Estudo inédito revela avanços em investimentos para mitigação e adaptação climática
O Brasil acaba de divulgar seu primeiro mapeamento do ecossistema de finanças climáticas, reunindo 37 iniciativas que impulsionam a transição para uma economia de baixo carbono. O levantamento, conduzido pelo Climate Finance Hub Brasil (CFH), destaca o crescimento dos investimentos sustentáveis e a busca por maior transparência ambiental.
O conceito de finanças climáticas engloba fluxos de capital destinados a projetos voltados à mitigação dos impactos das mudanças climáticas e à adaptação das cidades para torná-las mais resilientes. Além disso, a pesquisa aponta para a necessidade de transformar o sistema financeiro como um todo para alinhar-se à transição sustentável.
Estrutura do ecossistema de finanças climáticas no Brasil
O estudo classifica as iniciativas mapeadas em cinco setores principais:
Divulgação Climática: envolve organizações focadas em transparência e prestação de contas, fornecendo dados sobre emissões de gases de efeito estufa e planos de adaptação climática.
Ciência: reúne instituições responsáveis por pesquisas sobre os impactos das mudanças climáticas e suas projeções, orientando decisões financeiras e investimentos.
Finanças Sustentáveis: inclui iniciativas que integram critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) nas decisões financeiras, direcionando recursos para projetos sustentáveis.
Representação Setorial: contempla organizações que representam setores estratégicos da economia, como agricultura, energia e transporte, promovendo políticas e boas práticas climáticas.
Plataformas de Conhecimento e Dados Abertos: englobam iniciativas voltadas à coleta, análise e disseminação de informações sobre mudanças climáticas e finanças sustentáveis.
Avanços e desafios
O estudo evidencia que o Brasil tem avançado na implementação de padrões globais de relatórios climáticos, consolidando-se como líder na América Latina em transparência e boas práticas no setor. O número de empresas brasileiras comprometidas com metas climáticas validadas cresceu significativamente nos últimos anos, refletindo uma maior conscientização e engajamento do setor privado.
A transparência ambiental também registrou progressos notáveis, com um aumento expressivo no número de empresas que participam de iniciativas como o Carbon Disclosure Project (CDP). A adesão a padrões internacionais, como o TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) e o ISSB (International Sustainability Standards Board), reforça o compromisso do país com a responsabilidade climática.
No entanto, ainda há desafios a serem superados. O levantamento aponta que muitas iniciativas carecem de maior alinhamento com padrões globais, dificultando a comparação e integração com o cenário internacional. Além disso, a bioeconomia e as soluções baseadas na natureza permanecem como áreas pouco exploradas, mas com grande potencial para impulsionar a economia sustentável no Brasil.
Iniciativas mapeadas
Confira a lista das 37 iniciativas identificadas no levantamento, divididas por setor:
Divulgação Climática
Carbon Disclosure Project (CDP)
The Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) / International Sustainability Standards Board (ISSB)
Global Reporting Initiative (GRI)
Ciência
Science Based Targets initiative (SBTi)
Finanças Sustentáveis
The Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF)
The Coalition of Finance Ministers for Climate Action (CFMCA) e The Helsinki Principles
United Nations Environment Programme Finance Initiative (UNEP FI)
Net-Zero Asset Owner Alliance (NZAOA)
Net Zero Banking Alliance (NZBA)
Equator Principles (EPs)
Moody’s e a Net Zero Assessment platform
The Coalition for Climate Resilient Investment (CCRI)
InsuResilience Global Partnership (IGP)
Representação Setorial
Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN)
Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)
Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA)
Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE)
Confederação Nacional das Empresas de Seguros, Previdência Privada e de Capitalização (CNseg)
Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos, Valores Mobiliários e Commodities (ANCORD)
Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC)
Associação Brasileira de Bancos Internacionais (ABBI)
Plataformas de Conhecimento e Dados Abertos
Laboratório de Inovação Financeira (LAB)
Nature Investment Lab
Aliança Brasileira para Finanças e Investimentos Sustentáveis (BRASFI)
NewClimate Institute for Climate Policy and Global Sustainability
Capacity-building Alliance of Sustainable Investment (CASI)
Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ)
Green Finance Platform for Latin America and the Caribbean (GFL)
UNEP’s Climate Finance Unit
AdaptaBrasil
Sistema Nacional de Registro de Emissões (SIRENE)
MapBiomas
ClimateScanner
Fundação Getulio Vargas – Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces)
Portal de Conhecimento sobre Mudanças Climáticas do Banco Mundial (CCKP)
O levantamento reforça a importância da colaboração entre diferentes setores para acelerar a transição climática e garantir um futuro sustentável para o Brasil.
Fernanda de Carvalho é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Mestre em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também estudou na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo de Vida Selvagem. Dedicou parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental na Suzano S/A e como Consultora de Comunicação da Ocyan S/A. É conhecida no setor florestal pelos artigos publicados nos blogs Mata Nativa e Manda lá Ciência.