A quantificação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) é uma das principais dúvidas que recebemos de nossos leitores e um passo essencial para a gestão ambiental e a mitigação dos impactos climáticos. Empresas e organizações precisam medir suas emissões para cumprir regulamentações, definir metas de sustentabilidade e elaborar relatórios auditáveis e verificáveis.
Neste artigo, faremos uma análise detalhada sobre como calcular as emissões de Gases do Efeito Estufa, trazendo exemplos práticos e explicando, de forma clara, como todo o processo funciona. Como o conteúdo é extenso, disponibilizamos um índice para facilitar sua navegação.
Protocolo GHG oferece planilhas gratuitas para cálculo de emissões diretas de gases de efeito estufa, mas este artigo será importante para que você entenda como os cálculos funcionam, de forma que você consiga utilizar as planilhas da forma correta.
ÍNDICE
Emissões do Escopo 1
De acordo com o padrão de contabilização e relatório corporativo do Protocolo de Gases de Efeito Estufa (GHG Protocol), as emissões do Escopo 1 são aquelas emissões diretas que ocorrem a partir de fontes de propriedade ou sob controle da empresa. Exemplos incluem:
- Combustão em caldeiras, fornos e veículos da empresa;
- Emissões de processos químicos em equipamentos industriais;
- Vazamentos de equipamentos de refrigeração e ar-condicionado.
Categorias de Emissões do Escopo 1
As emissões do Escopo 1 são classificadas em quatro categorias principais:
- Combustão estacionária: Refere-se à queima de combustíveis em equipamentos fixos, como caldeiras, turbinas a gás e sistemas de geração de calor ou vapor.
- Combustão móvel: Engloba as emissões geradas pelos veículos utilizados nas operações da organização.
- Emissões de processos físicos ou químicos: Originam-se de atividades industriais que envolvem transformação química de materiais, como na produção de cimento, alumínio, amônia e processamento de resíduos.
- Emissões fugitivas: Resultam de liberações intencionais ou não intencionais de gases, como vazamentos em válvulas, selos, tubulações, mineração de carvão e sistemas de refrigeração.
Considerações para Indústrias Específicas
Algumas indústrias possuem emissões específicas dentro do Escopo 1. Por exemplo:
- Setor industrial: Produção de cimento, refinarias de petróleo e processamento de químicos geram emissões significativas de CO₂.
- Agricultura: As emissões incluem liberação de metano pela fermentação entérica dos animais, uso de fertilizantes sintéticos e decomposição de resíduos agrícolas.
- Gestão de resíduos: O processo de compostagem libera gases como metano e óxido nitroso, também considerados no Escopo 1.
Etapas para o Cálculo das Emissões
A definição das fontes de emissão é um dos primeiros passos para a elaboração do inventário de GEE. Para isso, seguimos um processo estruturado:
- Definição de limites organizacionais e operacionais: Determinar quais atividades, instalações e projetos estarão incluídos no inventário de emissões.
- Identificação das fontes de emissão: Mapear todas as atividades dentro da organização que geram emissões do Escopo 1.
- Escolha dos coeficientes de emissão e metodologias de cálculo: Utilizar coeficientes adequados para cada tipo de emissão.
- Aplicação dos coeficientes e cálculos: Calcular as emissões totais expressas em toneladas de CO₂ equivalente (tCO₂e), considerando o impacto no clima e o potencial de aquecimento global dos diferentes gases.
- Finalização e relatório: Compilar os resultados e apresentar à gestão da empresa.
- Verificação (opcional): A conferência dos cálculos pode ser solicitada pela alta administração, investidores ou reguladores locais.
O cálculo das emissões do Escopo 1 é um componente essencial na gestão de emissões de GEE de uma organização. Ao identificar fontes de emissões, aplicar metodologias de cálculo e reportar os resultados corretamente, as empresas podem melhorar sua eficiência operacional e sua conformidade com regulamentações ambientais.
Coleta de dados e métodos de cálculo
A identificação e cálculo das emissões de gases de efeito estufa são essenciais no padrão de contabilidade e relatório corporativo do Protocolo GHG.
Nesta seção, abordaremos os cálculos necessários para estimar a quantidade de gases de efeito estufa dentro dos limites operacionais e organizacionais estabelecidos para o relatório.
Formas de Quantificação das Emissões
Existem duas formas de quantificar as emissões de gases de efeito estufa: medições diretas e cálculos.
Primeiramente, falemos sobre medições diretas. A medição direta das emissões de gases de efeito estufa por meio do monitoramento da concentração e da taxa de fluxo não é comum. Esse tipo de medição é mais frequentemente usado para determinar vazamentos.
Existem duas opções para os cálculos. A primeira é o cálculo baseado no balanço de massa do carbono. Esse método é utilizado quando lidamos com processos tecnológicos e emissões de CO2, dependendo do volume de componentes contendo carbono na entrada e saída dos processos. O CO2 é emitido quando o carbono faz parte da substância de entrada e do processo químico. Assim, o volume de CO2 emitido é calculado com base no balanço entre entrada e saída de carbono. Um exemplo é a calcinação do calcário, que decompõe o carbonato de cálcio em óxido de cálcio e dióxido de carbono.
A segunda opção é o método de cálculo utilizando fatores de emissão. Esse método é empregado para determinar emissões provenientes da combustão de combustíveis. Ele utiliza dois tipos de dados, dependendo da atividade da organização: fatores de emissão, que variam conforme o equipamento e o tipo de combustível fóssil utilizado, além da quantidade efetiva de combustível consumido.
Resumindo: Existem duas principais abordagens:
- Medição direta: menos comum, usada para detectar vazamentos.
- Cálculo:
- Balanço de massa do carbono: usado em processos industriais, como a calcinação do calcário.
- Fatores de emissão: aplicado na queima de combustíveis e outros processos.
Emissões por Vazamento de Refrigerantes
Para vazamentos de fluidos refrigerantes, também há a possibilidade de quantificar as emissões de gases de efeito estufa. Essa opção requer os seguintes dados: tipo de equipamento de refrigeração, vida útil, período de recarga do fluido refrigerante e o risco de vazamentos acidentais e perdas durante a substituição do fluido.
Antes de prosseguirmos, um pequeno esclarecimento geral sobre os fluidos refrigerantes e seu impacto no clima. O potencial de aquecimento global de um fluido refrigerante refere-se ao seu impacto no aquecimento global em relação ao impacto da mesma quantidade de dióxido de carbono ao longo de um período de 100 anos. Todos os efeitos além desse período são desconsiderados. Para minimizar a contribuição para as mudanças climáticas, devem-se utilizar fluidos refrigerantes com menor potencial de aquecimento global e reduzir ao máximo os vazamentos dos equipamentos de refrigeração.
Existem quatro grupos de fluidos refrigerantes:
- Fluidos refrigerantes naturais, que são os mais ambientalmente amigáveis, com baixo potencial de aquecimento global e nenhum potencial de destruição da camada de ozônio.
- Clorofluorcarbonetos (CFCs), que têm alta contribuição para o efeito estufa e a destruição da camada de ozônio. A produção desses fluidos foi eliminada em países industrializados que assinaram o Protocolo de Montreal antes de dezembro de 1995 e na maioria dos outros países até 2010.
- Hidroclorofluorcarbonetos (HCFCs), que possuem menor potencial de destruição da camada de ozônio, mas ainda contribuem para o aquecimento global.
- Hidrofluorcarbonetos (HFCs), que têm potencial zero de destruição da camada de ozônio, mas ainda contribuem para o efeito estufa.
Cálculo das Emissões de CO2
Agora, vamos analisar a fórmula para o cálculo das emissões de dióxido de carbono com base no balanço de massa do carbono:
E_CO₂ = (44/12) * (CA_stock,st + CA_input – CA_stock,end – CA_output)
E_{CO_2} – Emissões de CO₂ no período, t
CA_{input} – Quantidade de carbono que entrou na instalação vindo de fora (para o período reportado), t
CA_{output} – Quantidade de carbono que saiu da instalação (para o período reportado), t
CA_{stock,st} – Quantidade de carbono (no início do período), t
CA_{stock,end} – Quantidade de carbono (no final do período), t
Sabemos que a massa molar arredondada do dióxido de carbono é de 44 gramas por mol e a massa molar do carbono é de 12 gramas por mol. Utilizando o valor da massa de carbono na entrada e saída do processo, é possível recalcular as emissões de CO2 multiplicando a massa resultante de carbono pelo coeficiente 44/12.
Às vezes, o resultado da divisão 44 por 12, que é 3,667, é utilizado diretamente.
Para obter os dados sobre a massa de carbono, podem-se utilizar tanto os resultados de medições laboratoriais quanto os dados fornecidos pelo fabricante de um determinado produto.
Cálculos com aplicação de fatores de emissão
Para calcular as emissões de gases de efeito estufa utilizando o método baseado em fatores de emissão documentados, é necessário compreender os processos que geram emissões e a quantidade de recurso utilizada. Se estivermos lidando com resíduos, os recursos a serem considerados são a quantidade de resíduos enviados para aterros, reciclados, compostados ou incinerados. Se estamos falando de combustão estacionária, o recurso é combustível e precisamos da quantidade de combustível queimado ou valor A na fórmula.
Multiplicamos a quantidade do recurso pelo fator de emissão “F”. O fator de emissão indica a quantidade de emissões de CO2 gerada como função da quantidade de energia produzida. Por exemplo, a produção de um milhão de unidades térmicas britânicas (MMBtu) de energia por meio da combustão de carvão antracito emite 104,42 kg de CO2 equivalente.
E=A×EF
Definições:
- E – Emissões de GEE (gases de efeito estufa) para o período reportado
- A – Quantidade aproximada de atividade na fonte de emissões (por exemplo, quantidade de combustível consumido, volume de resíduos gerados e aterrados, etc.) para o período reportado
- EF – Fator de emissão de GEE
Existem vários exemplos de fatores de emissão usados no cálculo de emissões diretas. Para combustão estacionária, dois tipos de fatores de emissão podem ser usados:
- A quantidade de emissões produzidas para cada unidade de combustível queimado. Por exemplo, o Protocolo GHG afirma que o metano emite 4,05 kg de CO₂ por galão de combustível queimado.
- A quantidade de emissões produzidas para cada unidade de energia gerada. Por exemplo, 53 kg de CO₂ são emitidos ao gerar energia a partir de 1 milhão de unidades térmicas britânicas (MMBtu) de gás natural.
Para a combustão móvel, utilizamos o coeficiente que indica a quantidade de gases de efeito estufa produzida por distância percorrida. Por exemplo, 5,75 kg de CO₂ são emitidos pela combustão de um galão de etanol no transporte.
Para refrigerantes, utilizamos um valor de potencial de aquecimento global (GWP) para refrigerantes específicos. A quantidade de refrigerante é definida como a diferença entre a quantidade de refrigerante no final e no início do ano de relatório.
Para obter uma escala comum para medir os efeitos climáticos dos diferentes gases de efeito estufa, devemos calcular o equivalente em dióxido de carbono (CO₂e) de todos os gases. Isso é feito multiplicando o potencial de aquecimento global (GWP) de cada gás pelo seu respectivo peso em massa.
Assim, o próximo fator utilizado na estimativa de gases de efeito estufa é o potencial de aquecimento global (GWP). Em outras palavras, o GWP mede a capacidade de um gás de reter calor na atmosfera ao longo do tempo, em relação ao CO₂.
A necessidade de mais um fator pode depender da localização da empresa para a qual estamos preparando o inventário de carbono e da fonte dos fatores de emissão usados no cálculo. Esse fator converte os valores do sistema métrico para o sistema imperial e vice-versa. Por exemplo, podemos usar fatores de emissão fornecidos pelo Protocolo GHG, que são expressos em unidades imperiais, para um projeto localizado em um país onde o sistema métrico é utilizado.
Nos países onde a regulamentação climática é avançada, os fatores de emissão locais geralmente estão disponíveis e podem ser usados nos cálculos. Se não houver bancos de dados climáticos confiáveis em um país, fatores de emissão baseados em boas práticas podem ser adotados, desde que convertidos para um sistema nacional de medição compatível.
Fator principal para cálculo das emissões de gases de efeito estufa
O principal fator utilizado no cálculo das emissões de gases de efeito estufa é o fator de emissão de um recurso específico. Quando falamos de gases de efeito estufa, dióxido de carbono e atividade de combustão de combustível, este fator é estimado com base no teor de carbono dos diferentes combustíveis.
Os fatores de emissão podem variar dependendo das características do combustível, que por sua vez dependem de fatores como:
- Local de extração do produto primário
- Tecnologia de produção do combustível
- Propriedades térmicas e químicas do combustível
Os coeficientes de emissão podem ser determinados de diversas formas:
- Medições diretas, baseadas em testes laboratoriais.
- Fontes secundárias, como dados fornecidos pelos fornecedores de recursos (informações que podem constar nos certificados de qualidade).
- Bancos de dados específicos, que consolidam diferentes fatores de emissão.
Por exemplo, o Protocolo GHG fornece uma tabela de fatores de emissão para combustão estacionária, abrangendo mais de 70 tipos de combustíveis.
Isso inclui combustíveis sólidos, líquidos, gasosos, turfa e diversos tipos de resíduos que emitem gases de efeito estufa durante a combustão.
Fator opcional no cálculo
Há um fator opcional que pode ser utilizado nos cálculos, dependendo dos dados disponíveis. Esse fator converte os valores do sistema métrico para o sistema imperial e vice-versa.
Por exemplo, suponha que estamos preparando o inventário de gases de efeito estufa para uma empresa em Luxemburgo, onde o projeto consumiu 1.000 kWh de energia. A fonte de emissão de gases de efeito estufa é a combustão estacionária e o combustível utilizado é o gás natural. Utilizamos o fator de emissão fornecido pelo Protocolo GHG, que estabelece que o fator de emissão de CO₂ para combustão estacionária de gás natural é de 53 kg de CO₂ por MMBtu.
Para calcular as emissões desses 1.000 kWh, precisamos converter as unidades de MMBtu para kWh e definir as emissões por quilowatt-hora. Sabemos que 1 MMBtu equivale a 293 kWh. Assim, o fator de emissão de CO₂ por kWh será:
53 kg de CO₂ / 293 kWh = 0,181 kg de CO₂ por kWh.
Conversão de emissões de gases de efeito estufa para CO₂ equivalente
Como mencionado anteriormente, devemos usar uma unidade padronizada para medir os efeitos climáticos dos diferentes gases de efeito estufa. Essa unidade é chamada de equivalente de dióxido de carbono (CO₂e).
O CO₂e é uma medida métrica usada para comparar as emissões de diferentes gases de efeito estufa com base no seu potencial de aquecimento global (GWP). Isso significa que convertemos as quantidades de outros gases para equivalentes de CO₂ com o mesmo impacto climático.
Por exemplo, segundo o Relatório de Avaliação do IPCC, o GWP do metano (CH₄) é 28, e o do óxido nitroso (N₂O) é 265. Isso significa que 1 tonelada métrica de metano equivale a 28 toneladas métricas de CO₂, e 1 tonelada métrica de óxido nitroso equivale a 265 toneladas métricas de CO₂.
Os gases de efeito estufa têm tempos de vida diferentes na atmosfera:
- Metano: aproximadamente 10 anos
- Óxido nitroso: cerca de 120 anos
- Dióxido de carbono: varia significativamente, pois seus processos de remoção envolvem o oceano e outros sistemas naturais, podendo durar de 20 a 200 anos ou até milhares de anos.
Nos cálculos de gases de efeito estufa, o período de 100 anos é o padrão para manter inventários e relatórios. Por exemplo, o impacto do óxido nitroso no aquecimento global ao longo de 100 anos é 265 vezes maior que o do CO₂. Alguns gases fluorados, como os freons, podem ter um impacto milhares de vezes maior do que o CO₂.
Exemplo de cálculo de CO₂ equivalente
Ao aplicar fatores de emissão para cada gás de efeito estufa estimado, obtemos o total de emissões em kg. Para converter esses valores para uma unidade comum, multiplicamos a quantidade de cada gás pelo seu potencial de aquecimento global (GWP).
Exemplo de cálculo:
- 34.226 kg de CO₂ × GWP (1) = 34.226 kg de CO₂e
- 0,65 kg de metano × GWP (28) = 18,2 kg de CO₂e
- 0,06 kg de óxido nitroso × GWP (265) = 15,9 kg de CO₂e
Resultado final: 34.260 kg de CO₂ equivalente.
Exemplos de cálculo dos Gases do Efeito Estufa
Neste capítulo, estudaremos como detectar fontes diretas de emissões de gases de efeito estufa para o Escopo 1 e realizaremos alguns cálculos para emissões diretas.
Conforme já discutido antes, As emissões do Escopo 1 são classificadas em quatro categorias principais: emissões fugitivas, combustão estacionária, combustão móvel, emissões de processos físicos ou químicos.
Vamos começar nossos cálculos com a combustão estacionária de combustível.
1. Emissões de uma Caldeira a Gás Natural
Considere que uma empresa opera uma caldeira que consome 15 toneladas de gás natural para geração de energia. Nosso objetivo é calcular as emissões de gases de efeito estufa (GEE) provenientes dessa combustão.
1.1 Conversão de Unidades
Os fatores de emissão estão expressos em unidades britânicas (BTU), portanto, devemos convertê-los para unidades métricas.
- 1 milhão de BTU equivale a 293 kWh (quilowatts-hora), conforme referência do Protocolo GHG.
- Os fatores de emissão usados, retirados do mesmo protocolo, são:
- CO₂: 53,06 kg/MMBTU.
- CH₄ (metano): 1 g/MMBTU.
- N₂O (óxido nitroso): 0,1 g/MMBTU.
- Convertendo para kWh:
- CO₂: 53,06 / 293 = 0,181 kg de CO₂/kWh.
- CH₄: 1 / 293 = 0,003 g de CH₄/kWh.
- N₂O: 0,1 / 293 = 0,0003 g de N₂O/kWh.
1.2 Cálculo da Energia Gerada
Para determinar a energia produzida pela combustão do gás natural, utilizamos os seguintes dados:
- Densidade do gás natural: 0,75 kg/m³, conforme referência técnica.
- Quantidade queimada: 15 toneladas (15.000 kg).
- Volume correspondente: 15.000 kg / 0,75 kg/m³ = 20.000 m³.
- Conteúdo energético do gás: 34 MJ/m³, segundo o IPCC.
- Conversão de MJ para kWh: 1 MJ = 0,278 kWh.
- Energia gerada por m³ de gás: 34 MJ/m³ × 0,278 kWh/MJ = 9,45 kWh/m³.
- Energia total gerada: 9,45 kWh/m³ × 20.000 m³ = 189.000 kWh.
1.3 Cálculo das Emissões de GEE
Multiplicamos a energia gerada pelos fatores de emissão:
- CO₂: 189.000 kWh × 0,181 kg/kWh = 34.226 kg de CO₂.
- CH₄: 189.000 kWh × 0,003 g/kWh = 0,65 kg de CH₄.
- N₂O: 189.000 kWh × 0,0003 g/kWh = 0,06 kg de N₂O.
Por fim, convertendo para CO₂ equivalente (GWP do IPCC):
- 34.226 kg de CO₂
- 0,65 kg de CH₄ × 28 = 18,2 kg de CO₂e
- 0,06 kg de N₂O × 265 = 15,9 kg de CO₂e
- Total: 34.260 kg = 34,3 toneladas de CO₂ equivalente.
2. Emissões do Transporte (Carro a Diesel)
A empresa tembém utiliza um carro movido a diesel para transporte, que percorre 28.000 km por ano e consome 2100 litros de diesel anualmente. Nosso objetivo é calcular as emissões de gases de efeito estufa provenientes desse veículo.
2.1 Conversão de Unidades
- Fator de emissão de CO₂: 10,21 kg/galão americano (segundo o Protocolo GHG).
- Conversão: 1 galão americano = 3,78 litros.
- Fator convertido: 10,21 / 3,78 = 2,7 kg de CO₂/L.
2.2 Estimativa da Distância Percorrida
- Consumo do carro: 7,5 L/100 km (segundo o relatório da Agência Internacional de Energia).
- Distância percorrida: (2100 L × 100 km) / 7,5 L = 28.000 km.
2.3 Cálculo das Emissões
- CO₂: 2,7 kg/L × 2100 L = 5670 kg de CO₂.
- CH₄: 0,0188 g/km × 28.000 km = 526 g = 0,526 kg.
- N₂O: 0,0119 g/km × 28.000 km = 334 g = 0,334 kg.
Convertendo para CO₂ equivalente:
- 0,526 kg de CH₄ × 28 = 14,7 kg de CO₂e
- 0,334 kg de N₂O × 265 = 88,5 kg de CO₂e
- Total: 5773 kg = 5,77 toneladas de CO₂ equivalente.
3. Emissões do Tratamento de Resíduos Orgânicos
A empresa gera 750 kg de resíduos orgânicos. O objetivo é calcular as emissões de gases de efeito estufa associadas ao descarte desses resíduos em aterros sanitários ou compostagem.
3.1 Conversão de Unidades
- Fatores de emissão:
- Aterro: 0,639 toneladas de CO₂e/tonelada de resíduo (Protocolo GHG).
- Compostagem: 0,165 toneladas de CO₂e/tonelada de resíduo.
- Quantidade de resíduo: 750 kg = 0,75 toneladas.
3.2 Cálculo das Emissões
- Aterro: 0,75 t × 0,639 = 0,48 t CO₂e.
- Compostagem: 0,75 t × 0,165 = 0,124 t CO₂e.
Conclusão: Compostagem é a opção mais sustentável.
4. Emissões Fugitivas de Equipamentos de Refrigeração
4.1 Cálculo da Perda de Refrigerante
O sistema de refrigeração deles contém 500 kg de gás refrigerante no início do ano e 400 kg no final do ano. Durante o ano, 5 kg de gás foram comprados e 10 kg foram descartados. Nosso objetivo é calcular as emissões fugitivas desse sistema.
- Início do ano: 500 kg.
- Final do ano: 400 kg.
- Comprado: 5 kg.
- Descartado: 10 kg.
- Perda total: (500 – 400) + 5 – 10 = 95 kg.
4.2 Conversão para CO₂e
- Fator GWP do R-401A: 17,94 (segundo o Protocolo GHG).
- Emissão total: 95 kg × 17,94 = 1,7 toneladas de CO₂e.
Resumo Final
- Caldeira: 34,3 t CO₂e.
- Carro a diesel: 5,77 t CO₂e.
- Resíduos:
- Aterro: 0,48 t CO₂e.
- Compostagem: 0,124 t CO₂e.
- Refrigeração: 1,7 t CO₂e.
Esses cálculos são essenciais para monitorar as emissões e buscar soluções mais sustentáveis.
Ferramentas de cálculo do Protocolo GHG
O Protocolo GHG oferece planilhas gratuitas para cálculo de emissões diretas de gases de efeito estufa.
Os cálculos podem ser feitos para:
- Combustão estacionária
- Combustão móvel
- Vazamento de refrigerantes
Além disso, a ferramenta do Protocolo GHG permite calcular emissões do Escopo 2, relacionadas à eletricidade, vapor e calor adquiridos, e algumas categorias do Escopo 3, como transporte upstream e downstream, viagens de negócios e deslocamento de funcionários.
O Protocolo GHG também fornece ferramentas específicas para setores industriais, conhecidas como ferramentas intersetoriais, aplicáveis a diversos segmentos de negócios.
Elaboração de relatórios
Após identificar todas as fontes de emissão e selecionar a metodologia de cálculo utilizada, é necessário documentar corretamente todas as etapas e anexar toda a documentação de suporte utilizada nos cálculos.
Todo relatório de gases de efeito estufa, independentemente das atividades principais da empresa ou dos limites organizacionais incluídos no inventário, deve conter as seguintes informações:
- Descrição dos limites organizacionais estabelecidos para o inventário.
- Descrição das atividades que são fontes de emissões de gases de efeito estufa.
- Limites operacionais.
- Escopos e categorias de emissão.
- Descrição da metodologia utilizada para quantificar as emissões de gases de efeito estufa.
- Referências a bancos de dados e fatores de emissão utilizados nos cálculos.
- Quantificação das emissões de gases de efeito estufa.
- Suposições utilizadas nos cálculos e documentação de suporte, como fichas técnicas de equipamentos com características relevantes, confirmação das quantidades de combustível queimado ou relatórios laboratoriais sobre medições de emissões.
Se esse tipo de coleta de dados for utilizado, o relatório final poderá ser auditado ou verificado posteriormente.
Um relatório público de emissões de gases de efeito estufa, de acordo com o Protocolo GHG – Padrão Corporativo, deve incluir as seguintes informações:
- Emissões totais dos escopos 1 e 2, independentemente de transações de gases de efeito estufa, como vendas, compras, transferências ou acumulação de permissões.
- Dados de emissões separados para cada escopo.
- Dados de emissões separadamente para os seis gases do efeito estufa: CO₂, CH₄, N₂O, HFCs, CFCs e SF₆, expressos tanto em toneladas métricas quanto em toneladas de CO₂ equivalente.
- Ano base escolhido e perfil de emissões ao longo do tempo, além da política para recálculo das emissões do ano base.
- Emissões diretas de CO₂ provenientes da combustão de biomassa (emissões biogênicas).
As seguintes informações podem ser reportadas opcionalmente, se estiverem disponíveis:
- Emissões de gases de efeito estufa não cobertos pelo Protocolo de Quioto.
- Informações sobre emissões relacionadas à energia:
- Emissões atribuídas à geração própria de eletricidade, calor ou vapor vendidos ou transferidos para outra organização devem ser indicadas separadamente no relatório.
- Emissões atribuídas à geração de eletricidade, calor ou vapor comprados para revenda a terceiros não consumidores finais também devem ser relatadas separadamente.
- Informações sobre compensações de emissões:
- Compensações adquiridas ou desenvolvidas fora dos limites do inventário, como remoção e armazenamento de gases de efeito estufa e projetos de redução de emissões.
- Reduções dentro dos limites do inventário que foram vendidas ou transferidas como compensações para terceiros.
O último passo do relatório de gases de efeito estufa é a entrega do documento à gestão da empresa. Um relatório bem elaborado pode ser utilizado como base para futuros projetos climáticos, podendo ser verificado por especialistas externos antes de ser arquivado.
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Fernanda de Carvalho é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Mestre em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também estudou na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo de Vida Selvagem. Dedicou parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental na Suzano S/A e como Consultora de Comunicação da Ocyan S/A. É conhecida no setor florestal pelos artigos publicados nos blogs Mata Nativa e Manda lá Ciência.