Com 34 anos de carreira no jornalismo, sendo 23 deles na Rede Globo, Giuliana Morrone ganhou destaque ao cobrir os bastidores da política brasileira, acompanhando todos os governos democraticamente eleitos desde 1990. Sua trajetória também inclui momentos internacionais marcantes, como as eleições que levaram Barack Obama a se tornar o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Ao longo dessa jornada, ela construiu uma carreira sólida, marcada por entrevistas com grandes personalidades e vivências em diversos países.
Agora, como especialista em ESG, Giuliana está em uma nova fase com o lançamento do livro Mitos e Verdades sobre o ESG. Com prefácio de Alexandre Di Miceli da Silveira, a obra aborda as contradições, desafios e oportunidades que as empresas enfrentam ao adotar práticas ESG (Environmental, Social, and Governance).
Mesmo com a agenda repleta de compromissos devido ao lançamento do livro, Giuliana Morrone reservou um tempo para conversar com o Portal do ESG. Na entrevista, ela refletiu sobre sua carreira no jornalismo, falou um pouco mais sobre o livro e compartilhou sua visão sobre a importância das práticas ESG no mundo corporativo.
Confira a íntegra dessa conversa que inaugura a nossa nova série de entrevistas, “Vozes do ESG”, onde traremos os principais especialistas em ESG do Brasil para compartilhar suas perspectivas e experiências.
Durante sua carreira, você cobriu temas complexos como escândalos e desastres ambientais. Como essas experiências moldaram sua percepção sobre a responsabilidade das empresas no cumprimento dos princípios ESG?
Comecei minha carreira, novinha, cobrindo o Plano Collor, que confiscou o dinheiro dos brasileiros. Com um misto de orgulho de minha função social e tristeza, devo dizer que cobri todos os grandes escândalos de corrupção, desde a volta de democracia. Foram muitos. Tudo isso aguçou meu viés crítico, mas reforçou também a minha convicção de que a oportunidade de Desenvolvimento no Brasil passa por um amadurecimento da ética empresarial e um aprofundamento dos princípios de responsabilização, sustentabilidade, equidade, transparência, integridade. Eu sou apegada ao sentido e significado das palavras. Existe palavra mais impactante que INTEGRIDADE? É cumprir com o que foi prometido.
No seu livro, você menciona a importância de uma visão integrada de ESG. Como essa abordagem sistêmica pode ser adotada pelas empresas que ainda estão no início de sua jornada ESG?
Imagine um colar de pérolas. Cultura, estratégia, liderança consciente e letrada, esferas unidas pelo fio do ESG. Esse é o olhar sistêmico. O problema é que querem deixar pérolas soltas. Não dá para mudar a cultura, sem aguçar a visão estratégica e, muito menos, sem a compreensão, conhecimento e desejo de mudança por parte da liderança. O foco no curto prazo, apenas em relatórios trimestrais, em KPI’s reduz o potencial de empresas e limita a jornada ESG.
O Brasil tem um enorme potencial em termos de meio ambiente, como você menciona no livro. Que barreiras estruturais ou culturais ainda impedem o país de ser uma liderança global em sustentabilidade?
Falta pulso para avançar nas políticas públicas. Veja o Plante, a Política Nacional de Transição Energética. Aqui em Brasília, ganhou apelido de pastel de vento. E não se trata da força da energia eólica. O vento é a falta de recheio. Falta sair da crítica para ações e estratégias sustentáveis. Ainda há uma cultura muito forte, focada na extração e uso de recursos naturais, como se fossem infinitos. O Brasil poderia ser um expoente agricultura regenerativa. Falta incentivo, nesse caso.
Você cita que o ESG é mais do que apenas conformidade com normas regulatórias. Como as empresas podem garantir que suas iniciativas ESG sejam genuínas e não apenas estratégias de marketing?
Eu entendo que urge uma padronização em metas ESG. Sem padronização, fica fácil a enganação.
A transição para um modelo de negócios mais sustentável é um dos temas centrais do seu livro. Que conselho você daria para líderes empresariais que estão enfrentando resistência interna para implementar ESG?
A resistência interna diminui, quando aumentam a segurança psicológica, o conhecimento da relevância do tema e o engajamento.
Como você imagina o futuro do ESG no Brasil e no mundo nos próximos 10 anos? Quais serão os maiores desafios e oportunidades?
Não sou especialista em questões ambientais, mas quem é está apavorado. Como eu deixaria de estar? Carlos Nobre, um dos maiores nomes entre cientistas dedicados ao clima, tem dito que a aceleração da crise climática escalou, além do que a ciência previa, e que o mundo pode estar num caminho sem volta. Infelizmente, a realidade da catástrofe no sul, da seca extrema no meu cerrado escancaram o problema. O agravamento da crise climática, as desigualdades sociais vão pressionar empresas, governos e demais stakeholders por mudanças. Aí está o futuro do ESG.
Mais sobre Giuliana
Giuliana é formada em Jornalismo e especializada em Jornalismo Político pela Universidade de Brasília, conta também com um MBA em ESG pela PUC Rio e especialização em liderança feminina pela Harvard University.
Mitos e Verdades sobre o ESG
No livro Mitos e Verdades sobre o ESG, Giuliana explora a crescente relevância do ESG no mundo dos negócios. A autora adota uma perspectiva integrada, mostrando como empresas precisam superar a visão mecanicista para adotar um modelo sistêmico, que valorize a sustentabilidade ambiental e o bem-estar social, além da governança eficiente.
Giuliana apresenta o ESG como mais do que um conjunto de práticas, mas sim uma transformação mental nas lideranças empresariais. Ela aborda temas como as mudanças climáticas, a crise da água, a desigualdade de gênero e a importância da governança ética, discutindo o papel das empresas em uma economia global sustentável.
O livro também revela os desafios do “greenwashing” e “greenhushing”, estratégias que distorcem ou ocultam práticas sustentáveis. A autora chama a atenção para a urgência de ações concretas, destacando o potencial do Brasil como líder em sustentabilidade devido à sua vasta biodiversidade e recursos naturais.
Giuliana mistura sua experiência como jornalista com entrevistas e pesquisas sobre empresas, mostrando como a pressão por práticas ESG está transformando os mercados globais.
Deixamos aqui essa sugestão de leitura para vocês. Vale a pena conferir!
Fernanda de Carvalho é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Mestre em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também estudou na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo de Vida Selvagem. Dedicou parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental na Suzano S/A e como Consultora de Comunicação da Ocyan S/A. É conhecida no setor florestal pelos artigos publicados nos blogs Mata Nativa e Manda lá Ciência.