A realização da COP30 no Brasil, em Belém do Pará, marca um momento decisivo para a agenda climática global — e também para o posicionamento estratégico das empresas brasileiras. Em um mundo que exige cada vez mais transparência, responsabilidade e compromisso ambiental, as práticas de ESG (sigla para Environmental, Social and Governance) deixaram de ser diferenciais para se tornarem condições básicas de sobrevivência empresarial.
Com a COP30 se aproximando, cresce o interesse por compreender como a sustentabilidade corporativa pode se alinhar aos compromissos climáticos globais e gerar valor de longo prazo.
O que é a COP30 e por que ela importa para as empresas brasileiras
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em 2025, reunirá líderes globais, negociadores, especialistas e representantes da sociedade civil para definir metas concretas de combate às mudanças climáticas.
Ao sediar o evento, o Brasil entra no centro do debate internacional, pressionando governos e empresas a reverem seus modelos de desenvolvimento e a se comprometerem com ações mensuráveis. Para o setor privado, isso significa:
- Revisar metas de redução de emissões.
- Fortalecer ações de governança climática.
- Ampliar transparência em relatórios ambientais.
- Investir em inovação sustentável.
A nova economia verde: desafios e oportunidades
A transição para uma economia verde é inevitável — e quem não se adaptar corre o risco de ficar para trás. A COP30 está servindo como catalisador para:
- Incentivos à descarbonização de cadeias produtivas.
- Fortalecimento do mercado de créditos de carbono.
- Expansão da bioeconomia e da circularidade.
- Valorização de ativos sustentáveis em bolsas de valores.
- Reestruturação de investimentos sob critérios ESG.
O grande desafio está em transformar compromissos em ações verificáveis, que gerem não apenas retorno financeiro, mas também valor socioambiental.
ESG na prática: setores que estão liderando a transição
Alguns setores vêm se destacando na antecipação às exigências globais que serão debatidas na COP30. Entre eles:
Agronegócio
Empresas agroexportadoras estão investindo em rastreamento da cadeia, práticas regenerativas, reflorestamento e uso de tecnologias para redução de emissões de metano.
Energia
O setor elétrico brasileiro se destaca por sua matriz limpa, mas há desafios na expansão de energias renováveis como solar e eólica em escala. A adoção de hidrogênio verde também desponta como tendência.
Financeiro
Bancos e fundos de investimento estão acelerando a inclusão de critérios ESG em seus portfólios. Produtos como green bonds e fundos climáticos ganham força com a aproximação da COP30.
Indústria
A indústria de base (papel e celulose, mineração, química) está sob pressão para reduzir impactos e mitigar riscos socioambientais. Muitas vêm criando comitês ESG e adotando metas científicas de redução de carbono.
O papel da governança e da transparência na agenda climática
Não basta apenas parecer sustentável — é preciso comprovar, mensurar e reportar. Nesse sentido, a governança ESG é cada vez mais estratégica:
- Criação de conselhos e comitês de sustentabilidade.
- Inclusão de indicadores ESG nos planos de remuneração de executivos.
- Integração dos ODS da ONU às metas corporativas.
- Publicação de relatórios alinhados às diretrizes GRI, SASB, TCFD.
- Uso de ferramentas de materialidade para priorizar ações com maior impacto.
Essa governança climática será observada de perto durante a COP30, inclusive por investidores estrangeiros que desejam aplicar recursos em empresas brasileiras.
Como a COP30 influencia os investimentos sustentáveis
Com a COP30 como pano de fundo, a tendência é de crescimento expressivo dos investimentos sustentáveis. Gestores estão cada vez mais atentos à:
- Mitigação de riscos climáticos físicos e de transição.
- Exigência de due diligence ESG em fusões e aquisições.
- Avaliação de licenças sociais para operar, especialmente em regiões amazônicas.
- Incorporação de métricas ESG nas análises de crédito.
- Fuga de capital de empresas que não assumem compromissos ambientais concretos.
Ou seja, a COP30 não será apenas um evento diplomático: ela está redefinindo a lógica de alocação de capital global.
Conclusão: ESG como estratégia de sobrevivência e inovação
A COP30 no Brasil não é apenas um símbolo — é um chamado à ação. Empresas que desejam crescer com solidez precisam encarar o ESG como parte do seu DNA, e não apenas como um apêndice de marketing.
Mais do que preparar um relatório bonito, é necessário internalizar valores, reformular modelos de negócio e agir com responsabilidade diante da sociedade e do planeta.
A transição já começou. E quem ainda não começou a se mover está, definitivamente, atrasado.

Fernanda de Carvalho é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Mestre em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também estudou na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo de Vida Selvagem. Dedicou parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental na Suzano S/A e como Consultora de Comunicação da Ocyan S/A. É conhecida no setor florestal pelos artigos publicados nos blogs Mata Nativa e Manda lá Ciência.