Mesmo com mudanças no cenário político dos Estados Unidos e novas regulações internacionais, o mercado de investimentos em sustentabilidade e ESG segue em expansão. Analistas preveem que essas transformações terão impacto limitado no crescimento do setor em 2025 e nos anos seguintes, com a transição energética mantendo seu papel central na agenda global.
A eleição de Donald Trump trouxe incertezas para os investidores, especialmente nos Estados Unidos, onde políticas energéticas podem favorecer combustíveis fósseis. Contudo, a economia global e as demandas de eficiência energética e resiliência corporativa continuam a impulsionar os investimentos sustentáveis. De acordo com Hortense Bioy, chefe de pesquisa de investimentos sustentáveis da Morningstar, “as energias renováveis agora são mais baratas que os combustíveis fósseis, e o dinheiro vai fluir para onde faz sentido investir”.
Cenário global e desafios locais
Embora o mercado ESG enfrente desafios, como consolidações de fundos e regulações mais rígidas na Europa, o setor continua a crescer. Nos EUA, o número de fundos ESG caiu de 647 para 595 ao longo de 2024, segundo a Morningstar. Apesar disso, o valor total dos ativos desses fundos alcançou US$ 6,5 trilhões ao final do ano.
Na Europa, as normas de taxonomia vêm pressionando empresas a adotar critérios mais claros para rotular investimentos ESG. Já nos EUA, uma onda de resistência política e altas taxas de juros também influenciaram o desempenho do setor.
Ainda assim, o mercado mantém otimismo. Uma pesquisa de 2024 realizada pela Schroder Investment Management revelou que 77% das empresas norte-americanas estão investindo ou planejam investir na transição energética até 2026.
Autorreflexão e padrões mais elevados
A crescente fiscalização contra o greenwashing — práticas que promovem sustentabilidade de forma enganosa — levou a uma maior autorreflexão entre gestores de fundos. Segundo Maria Lettini, CEO da US SIF Foundation, as empresas estão repensando estratégias ESG, priorizando dados e benchmarks claros para garantir que seus investimentos sejam sustentáveis e transparentes.
“Definitivamente, há um impulso para ser mais cuidadoso e matizado, dado onde o mercado está agora em termos de relatórios e dados”, acrescentou Sireen Hajj, diretora da US SIF Foundation.
ESG e desempenho no mercado de ações
O índice S&P 500 ESG, que mede o desempenho de empresas com boas práticas em sustentabilidade, segue superando ligeiramente seu índice pai, o S&P 500. Nos últimos cinco anos, o destaque em áreas como desenvolvimento de capital humano e retenção de talentos contribuiu para o desempenho superior do índice ESG.
Maya Beyhan, especialista em sustentabilidade da S&P Dow Jones Indices, destacou que “os critérios sociais contribuíram positivamente para o desempenho relativo do índice”, mostrando que boas práticas ESG podem gerar benefícios tanto ambientais quanto financeiros.
Gestão de riscos climáticos: uma prioridade
Investidores também estão analisando mais profundamente os riscos climáticos associados às empresas em que investem. A Impax Asset Management, por exemplo, avalia como concessionárias de energia nos EUA estão se preparando para desastres relacionados às mudanças climáticas, como incêndios florestais e tempestades.
Charlie Donovan, economista da Impax, apontou que empresas que demonstram capacidade de lidar com crises ambientais hoje têm maior potencial de oferecer retornos sólidos no futuro. “As empresas que estão se movendo nessa direção têm consciência do contexto social e ambiental em que operam”, afirmou.
Conclusão
Apesar das incertezas políticas e regulatórias, o mercado ESG continua a amadurecer e evoluir. A busca por eficiência, resiliência e gestão de riscos climáticos está impulsionando investidores a adotar práticas mais cuidadosas e alinhadas com a realidade econômica global. Especialistas acreditam que o foco em sustentabilidade continuará sendo uma prioridade para empresas e investidores, independentemente das políticas governamentais.
Com o avanço das regulamentações e o fortalecimento da transição energética, o setor ESG se consolida como um componente essencial para o futuro dos mercados globais.
Fonte: www.spglobal.com
Fernanda de Carvalho é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Mestre em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também estudou na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo de Vida Selvagem. Dedicou parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental na Suzano S/A e como Consultora de Comunicação da Ocyan S/A. É conhecida no setor florestal pelos artigos publicados nos blogs Mata Nativa e Manda lá Ciência.