Monte Carmelo, no Triângulo Mineiro, entrou para o mapa das principais ações de educação climática do Brasil. A cidade abriga agora o primeiro Centro de Formação em Educação Climática de Minas Gerais, por meio da criação da Sala Verde “CEFEC – Centro de Formação em Educação Climática”, reconhecida oficialmente pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Instalada no campus da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) no município, a iniciativa é pioneira ao se dedicar exclusivamente à educação climática no estado. A proposta foi idealizada pelo Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Planejamento e Manejo da Paisagem Florestal (Nuplamflor), do curso de Engenharia Florestal da UFU, sob coordenação dos professores Luciano Cavalcante de Jesus França e Vicente Toledo Machado de Morais Júnior.
Reconhecimento e pioneirismo
Para o professor Vicente Toledo, a criação do CEFEC representa um avanço institucional e regional significativo, em um momento estratégico para a agenda ambiental brasileira.
“A mudança do clima já chegou, e a UFU, no campus de Monte Carmelo, hoje é a pioneira em Minas Gerais e uma das primeiras instituições de ensino no país a criar um espaço de educação informal específico para o enfrentamento à mudança do clima. Somos o primeiro espaço educacional a implementar na prática a mais recente Lei nº 14.926, de 17 de julho de 2024, que alterou a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) e tornou obrigatória a educação climática nas estruturas curriculares do ensino básico ao superior. Essa obrigatoriedade entrou em vigor em janeiro de 2025”, destaca o docente.
Educação climática como eixo central
A promulgação da Lei nº 14.926/2024 reforça a importância da Sala Verde CEFEC. O espaço surge como um centro de formação voltado ao desenvolvimento de ações educativas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e às diretrizes da PNEA.
Segundo o professor Luciano França, o centro busca promover a popularização do tema da mudança do clima de forma transversal e acessível.
“Nossa missão tem sido popularizar o assunto local e regionalmente de forma sistêmica. A Sala Verde CEFEC contribui por meio da interlocução com produtores rurais, professores, estudantes e crianças do ensino básico, sempre com base em vivências práticas. Desde que recebemos a certificação em fevereiro, temos realizado mensalmente ações como oficinas, trilhas ecológicas interpretativas, plantios de restauração, rodas de conversa e comunicação climática nas redes sociais, sempre seguindo nosso projeto político pedagógico.”

Mesmo sem financiamento direto do MMA, o reconhecimento oficial tem gerado frutos concretos.
“A certificação tem gerado uma repercussão muito positiva. Temos recebido uma grande demanda de escolas para o projeto ‘Um Pé no Parque’, com trilhas educativas sensoriais em áreas de floresta. Prefeituras da região passaram a nos procurar, e a imprensa estadual tem dado visibilidade à temática climática. Além disso, o reconhecimento fortalece a UFU junto às agências de fomento e à sociedade em geral”, explica o professor Luciano.
Desafios para consolidar o espaço
Apesar dos avanços, o projeto enfrenta obstáculos. A principal dificuldade atual é a infraestrutura necessária para abrigar o centro.
“Nossa maior limitação é a ausência de um espaço físico e de recursos financeiros. O MMA fornece a chancela, mas não aporta verba para funcionamento. A UFU tem nos apoiado institucionalmente, mas ainda não temos um local definitivo para o CEFEC. No entanto, contamos com uma equipe engajada de colaboradores e estudantes, que estão sendo preparados para atuar com educação climática. Lutamos para captar recursos que nos permitam viabilizar um espaço adequado, com áreas para oficinas, leitura, reuniões e cursos”, afirma o professor Vicente.
Formação de estudantes e envolvimento comunitário
O CEFEC também representa uma oportunidade valiosa para os estudantes de Engenharia Florestal da UFU.
“A Sala Verde CEFEC é o que há de mais cirúrgico em extensão socioambiental no país. Para os estudantes, é um diferencial na formação para um mundo que exige mais sensibilidade e compreensão sobre mudanças climáticas. O centro fortalece o ensino, a aprendizagem e o compromisso social. Desde fevereiro, já atendemos cerca de 200 pessoas nas atividades do CEFEC. Nosso objetivo é impactar toda a sociedade, com foco nas escolas públicas e privadas da região”, complementa o professor Vicente.

Nuplamflor: a base científica e estratégica do projeto
Por trás do projeto está o Nuplamflor, grupo de pesquisa reconhecido pelo CNPq como o primeiro do país dedicado ao planejamento e manejo de paisagens rurais e florestais.
“A maioria dos desafios ambientais têm soluções que começam na escala da paisagem. O Nuplamflor realiza eventos científicos e técnicos que complementam a formação dos estudantes. Além disso, fazemos a ponte entre pesquisa e extensão ao transformar conhecimento técnico em linguagem acessível para o público em geral. Nosso objetivo agora é ampliar parcerias e formar pessoas capazes de enfrentar a crise climática, tendo a floresta como ponto de partida. Acreditamos que não há tecnologia mais poderosa para descarbonizar e educar do que as árvores e as florestas”, conclui o professor Luciano.
Monte Carmelo como vitrine para a educação ambiental brasileira
Com o reconhecimento do Ministério do Meio Ambiente, o CEFEC se torna não apenas uma conquista local, mas um marco nacional. A UFU reafirma seu papel como uma universidade pública comprometida com o desenvolvimento sustentável e com o fortalecimento das políticas públicas em educação climática. Monte Carmelo, por sua vez, se transforma em referência para um Brasil que precisa urgentemente formar uma nova geração mais consciente e preparada para enfrentar os desafios da crise climática.
Para mais informações, acesse: https://sites.google.com/view/nuplamflorlab/
Siga o Nupamflor no Instagram: https://www.instagram.com/nuplamflor_ufu/

Fernanda de Carvalho é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Mestre em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também estudou na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo de Vida Selvagem. Dedicou parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental na Suzano S/A e como Consultora de Comunicação da Ocyan S/A. É conhecida no setor florestal pelos artigos publicados nos blogs Mata Nativa e Manda lá Ciência.