
Quando o Hugo Calderano conquistou a medalha de ouro na Copa do Mundo e, hoje, a medalha de prata no Mundial de Tênis de Mesa, ele fez mais do que história. Ele escreveu, com suor e talento, o maior feito brasileiro nesse esporte. Quem acompanha tênis de mesa sabe o frio na barriga. Sabe o que é assistir um jogo com as mãos frias, com a mesma devoção que tantos brasileiros reservam ao futebol. Quem ama o tênis de mesa, ama de verdade. E esse amor ainda é invisível para o Brasil.
O tênis de mesa é um esporte apaixonante, democrático, acessível e criativo. E, ainda assim, invisibilizado.
Existem talentos incríveis espalhados pelo Brasil, treinando com esforço diário, muitas vezes bancando do próprio bolso as inscrições dos campeonatos, dividindo o aluguel de pequenos espaços, comprando mesas usadas com a ajuda de amigos. Gente comum — trabalhadores do comércio, da indústria, do mercado — que percorrem longas distâncias para poder treinar e competir, movidos por uma paixão genuína que resiste, mesmo sem apoio.
Existem casos também de pessoas que fazem verdadeiros milagres pelo esporte. Treinadores que, com pouquíssimo apoio, mantêm escolinhas funcionando e ainda ajudam crianças carentes a participarem dos campeonatos. O que temos de incentivo vem, quase sempre, de prefeituras que cedem espaços — e olhe lá. A maioria dos centros de treinamento são sustentados por pessoas comuns, com amor ao esporte e muito esforço.
É por isso que merece ser celebrado o trabalho da CazéTV, que tem feito o que nenhuma emissora aberta fez: transmitir, com qualidade e entusiasmo, os jogos de tênis de mesa. A CazéTV não apenas transmite, ela valoriza. Dá voz aos atletas, cria conexão com o público e aproxima o esporte de quem talvez nunca tivesse tido a chance de conhecê-lo. Esse tipo de cobertura não é só entretenimento — é também incentivo, é visibilidade, é respeito. E faz toda a diferença.
E não é por falta de talento que não temos mais “Calderanos” por aí. Eles existem. O problema é que estão escondidos, invisíveis, por falta de incentivo. Falta investimento. Falta visibilidade. Falta quem acredite.
A verdade é que o tênis de mesa exige muito mais do que preparo físico. Ele exige inteligência. Raciocínio rápido. Capacidade de adaptação. Criatividade. Hugo Calderano é um gênio do esporte, sim, mas ele também é prova de que o tênis de mesa é uma arte mental — e não apenas um jogo de reflexo. Seu sucesso é a soma de talento, estratégia e persistência. E é, sem dúvida, uma pedra no sapato dos chineses, que há décadas dominam a modalidade.
É preciso que mais pessoas olhem para isso com os olhos certos. Temos tantas empresas grandes no Brasil— muitas delas que dizem investir em esportes. Mas será que investir em um esporte que não é midiático, que não causa comoção nacional, entra no radar dessas empresas? Deveria. Porque promover o tênis de mesa é promover inclusão, saúde, cidadania e inteligência. E diferente do que muitos pensam, não é um esporte caro. Com pouco, é possível montar centros de treinamento eficientes. O que falta mesmo é vontade.
O tênis de mesa já é grande. Só falta o Brasil perceber.
Parabéns, Hugo Calderano! Sua conquista é histórica, grandiosa e profundamente simbólica para todos que amam o tênis de mesa.

Fernanda de Carvalho é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Mestre em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também estudou na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo de Vida Selvagem. Dedicou parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental na Suzano S/A e como Consultora de Comunicação da Ocyan S/A. É conhecida no setor florestal pelos artigos publicados nos blogs Mata Nativa e Manda lá Ciência.