O professor Dan Vermeer, da Duke Fuqua School of Business, considera o engajamento de stakeholders fundamental para o equilíbrio entre o potencial de crescimento econômico e a necessidade de preservação
Localizada no topo do globo, a região do Ártico abrange o Polo Norte, vastas extensões de água que circundam a Terra, a maior parte da Groenlândia, Islândia e as regiões mais ao norte da Escandinávia, Rússia, Canadá e Alasca. É uma região rica em recursos naturais, um grande reservatório de pescados e um possível corredor de navegação para as cadeias globais de suprimentos. Mas o Ártico é também um ecossistema frágil, particularmente sensível às consequências das mudanças climáticas.
Enquanto a região atrai atenção crescente de governos e empresas ao redor do mundo, é imperativo que “atendamos às nossas necessidades de crescimento e desenvolvimento atuais sem sacrificar a capacidade das futuras gerações de fazerem o mesmo”, afirma Dan Vermeer, professor associado, com vasta experiência prática, da Fuqua School of Business da Duke University, nos Estados Unidos, e Diretor Executivo do Centro de Energia, Desenvolvimento e Meio Ambiente Global (EDGE) da Fuqua.
Em uma palestra na página da Fuqua no LinkedIn, Vermeer mapeou as apostas, riscos e oportunidades no Ártico, e defendeu o desenvolvimento sustentável da região, um objetivo compartilhado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
“Como equilibramos o desejo de crescimento econômico, por um lado, e preservamos ou melhoramos a qualidade de vida e a saúde dos ecossistemas, por outro?” indaga Vermeer. O professor afirma que: “Deixe-me ser claro: deve haver proteções rigorosas e limites claros para o desenvolvimento nesta região frágil, e essa deve ser a primeira prioridade. Mas também testemunhei grandes exemplos de empresas na região que equilibram desenvolvimento econômico com a preservação das comunidades locais e dos ecossistemas. Precisamos aprender a fazer esse tipo de desenvolvimento sustentável melhor”, destaca.
Três maneiras pelas quais o Ártico é relevante para a economia global
Cerca de 4 milhões de pessoas vivem no Ártico, 10% das quais são indígenas (na Groenlândia, esse percentual chega aos 90%).
A região é supervisionada pelo Conselho do Ártico, um fórum intergovernamental cujos estados membros são Canadá, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Rússia, Suécia e Estados Unidos. Apesar desses pontos, as crescentes oportunidades econômicas estão levando mais e mais países a declarar interesse na região, destaca Vermeer.
“A China, por exemplo, se autodenomina um país próximo ao Ártico. Por que estão fazendo isso? Porque há um interesse e potencial crescente para o desenvolvimento econômico da região”, diz.
Vermeer destaca que há pelo menos três setores industriais principais na região que estão gerando interesse:
1 – Pesca. Atração da demanda global por proteínas e todos os tipos de subprodutos do peixe. “Também estamos vendo espécies que anteriormente eram encontradas mais ao sul, agora se movendo para o norte, algumas para as regiões árticas”, disse.
2 – Energias renováveis. Essa é uma área que mostra “muito potencial de desenvolvimento nesta região”, disse Vermeer, incluindo energia eólica, solar, hidrelétrica e produção de hidrogênio. Embora a demanda local seja baixa (porque a população é pequena), essa economia provavelmente se concentraria em formas de energia que poderiam ser transportadas para outras partes do mundo por meio de navios, gasodutos, redes ou outros meios.
3 – Matérias-primas. A busca global por matérias-primas chegou ao Ártico, uma área rica em minerais usados em veículos elétricos, baterias, turbinas e painéis solares.
Para Vermeer, o problema é que as práticas empresariais tradicionais “exploradoras” nesses setores não são compatíveis com a preservação de comunidades e ambientes frágeis. “Os negócios como de costume inevitavelmente irão perturbar o meio ambiente e o bem-estar das populações que vivem lá. Precisamos de uma abordagem melhor, e os riscos são altos”, afirma.
Os desafios do desenvolvimento sustentável do Ártico
Frequentemente referido como “o barômetro do mundo”, o clima do Ártico está mudando “cerca de quatro vezes mais rápido do que em outras partes do mundo”, explica Vermeer. As mudanças climáticas estão fazendo com que o gelo recue e derreta em água, o que cria um “ciclo de feedback que aumenta as temperaturas naquela região de maneira mais rápida do que em outras partes do mundo”, diz.
De acordo com o professor, qualquer projeto de desenvolvimento na região precisa salvaguardar esse ambiente frágil. Entre as consequências das mudanças ambientais, muitas populações indígenas estão enfrentando problemas de saúde mental relacionados a um ritmo de transformação climática, econômica e política que está “acontecendo de maneiras que estão perturbando padrões de vida tradicionais”, afirma Vermeer.
Oportunidades no Ártico
“A biodiversidade é a riqueza fundamental de qualquer sociedade”, afirma Vermeer.
Em um curso sobre sustentabilidade na região nórdica que liderou com um grupo de estudantes de pós-graduação da Duke, Vermeer visitou locais no Ártico onde empresas de ponta estão aproveitando a “riqueza natural para criar mercados globais”, diz. Por exemplo, o grupo visitou um cluster de instalações de pesquisa e empresas startups chamado Biotech North, que está conduzindo pesquisas sobre genética oceânica e materiais, com aplicações para câncer e diabetes, entre outras coisas.
A viagem também abordou protagonistas tradicionais que estão inovando suas práticas. Um bom exemplo é a empresa pesqueira local BR Karlsen, que fornece “metade do fornecimento de salmão orgânico da Noruega, e está comprometida a não crescer, porque acredita que está no limite ecológico de sua operação”, destaca.
O professor afirma que mesmo assim querem continuar inovando e criando produtos de maior qualidade. Uma das tecnologias que adotaram é um sensor de IA colocado nas jaulas de aquicultura, que pode detectar piolhos de peixe – um grande problema para a indústria pesqueira – e eliminá-los com lasers. “É uma integração fascinante de alta tecnologia em operações industriais bastante tradicionais”, disse.
Outras operações estão aproveitando os recursos da região para contribuir para a sustentabilidade. O Iceland Ocean Cluster está criando um ecossistema de startups e investidores focados nas muitas aplicações dos resíduos de peixe, ou o que resta depois de remover o filé de um bacalhau. A organização está usando pele de peixe, por exemplo, como matéria-prima para produtos de bandagem, disse Vermeer, que têm propriedades curativas que os tornam adequados para vítimas de queimaduras e pacientes diabéticos. O negócio cresceu a ponto de ter sido recentemente adquirido por uma empresa dinamarquesa por US$1,3 bilhão.
“De perfumes a combustíveis e embalagens, você pode usar a matéria-prima da indústria pesqueira e transformá-la em produtos de maior valor”, disse Vermeer.
Em outro exemplo de inovação adotada por atores mais antigos, a Nuna Green, estatal de energia da Groenlândia, recentemente deixou de usar petróleo e gás como sua principal fonte de energia. Tendo uma grande usina hidrelétrica, eles precisavam de uma nova solução para fornecer eletricidade a vilarejos distantes. Atualmente, a empresa está estudando a viabilidade de usar hidrogênio verde produzido a partir de energia hidrelétrica e, em seguida, usar navios para entregar o hidrogênio verde a locais remotos.
Um caminho de múltiplas parcerias para o desenvolvimento sustentável
Há muitos motivos pelos quais o Ártico está atraindo interesse crescente de empresas e governos ao redor do mundo, disse Vermeer, mas os stakeholders locais precisam ser envolvidos e os padrões ambientais preservados.
“A única maneira de decifrar o código do desenvolvimento sustentável é por meio de parcerias multissetoriais, onde empresas, governo e sociedade civil encontram novas maneiras de trabalhar juntos em torno dessas oportunidades e desses desafios”, disse ele.
As regulamentações da UE em torno da divulgação corporativa e da medição de impacto são reais, disse Vermeer, e “especialmente em ambientes frágeis como o Ártico, todas as empresas terão que realmente se destacar em termos de sua capacidade de medir, relatar e fazer progresso em seus objetivos de sustentabilidade ambiental e social, apesar das oscilações em diferentes países em torno de ESG.”
“A mudança em direção à transparência veio para ficar.”
Ao mesmo tempo, os governos precisam encontrar maneiras de incluir as populações indígenas na conversa sobre desenvolvimento. Em março de 2024, a Noruega chegou a um acordo com a população Sami, um grupo de pastores de renas que processou o governo norueguês porque um projeto para construir o maior parque eólico do país estava invadindo seus direitos de pastagem.
“Precisamos resolver essa tensão entre a crise climática e o que você poderia chamar de crise de consentimento. O engajamento dos stakeholders será fundamental para o futuro desenvolvimento do Ártico”, disse Vermeer.
Sobre a Duke Fuqua School of Business
A Duke Fuqua School of Business é uma instituição privada localizada em Durham, Carolina do Norte, considerada pela Bloomberg como uma das principais escolas de negócios do mundo. Conquistou grande relevância ao trazer lives e pesquisas sobre temas que antecipam questões da economia mundial, de negócios, das finanças, do marketing, dentre outras temáticas.
Com grande renome internacional, tem proporcionado a seus egressos a oportunidade de aperfeiçoamento de suas competências, agregando técnicas e metodologias inovadoras a seus currículos e ampliando sua visão sobre as vantagens competitivas e a carreira no mundo dos negócios.
Esta história não pode ser republicada sem permissão da Fuqua School of Business da Universidade Duke. Por favor, entre em contato com gustavo.bechara@viveiros.com.br para informações adicionais.
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