
Este texto é uma homenagem ao Papa Francisco, um líder espiritual que inspirou o mundo ao colocar o meio ambiente no centro de sua missão pastoral. Compartilhamos profundamente das ideias que ele defendeu com coragem e compaixão, acreditando, como ele, que a justiça social e a preservação da natureza caminham juntas. Em tempos de crise climática, sua voz foi um farol moral que nos lembra da urgência de cuidar da nossa casa comum e dos mais vulneráveis.
Desde o início de seu pontificado, em 2013, o Papa Francisco se destacou por colocar a questão ambiental no centro de sua missão pastoral e política. Escolhendo o nome de São Francisco de Assis – o santo patrono da ecologia – Jorge Mario Bergoglio deixou claro que sua liderança espiritual também seria um apelo global por justiça climática e proteção da natureza.
Ao longo de seus 12 anos como pontífice, Francisco transformou o Vaticano em um dos centros mais influentes do debate ambiental internacional, oferecendo uma abordagem única e poderosa: a da ética e da compaixão. Para ele, a crise climática não era apenas um desafio científico ou político, mas uma questão moral urgente, intimamente ligada às desigualdades sociais.
Laudato Si’: o grito da Terra e dos pobres
A encíclica Laudato Si’, publicada em 2015, é considerada a peça central de seu pensamento ambiental. Nela, o Papa denuncia o “consumo desenfreado” e o “modelo econômico que descarta vidas humanas e destrói o planeta”, chamando a atenção para o que chamou de “dívida ecológica” dos países ricos em relação aos pobres. Francisco não falava apenas sobre emissões de carbono, mas sobre dignidade, desigualdade e solidariedade.
“A crise é uma só: social e ambiental”, escreveu, criticando as estruturas econômicas globais que promovem a exclusão e a devastação ambiental ao mesmo tempo. A Laudato Si’ foi amplamente reconhecida como uma influência nos debates que antecederam o Acordo de Paris, ajudando a moldar a percepção global de que o clima é também um tema de direitos humanos.
Um papa na linha de frente climática
Francisco foi além dos discursos. Em 2018, promoveu encontros inéditos com executivos das maiores petroleiras do mundo – como ExxonMobil, BP e Shell – dentro do Vaticano, exigindo deles comprometimento com a redução do aquecimento global. Em 2019, declarou emergência climática global. E mesmo em seus últimos meses de vida, organizou uma conferência sobre “a economia do bem comum”, ligando ecologia e economia com profundidade rara entre líderes mundiais.
Seu antecessor, o Papa Bento XVI, já havia iniciado ações para tornar o Vaticano mais sustentável. Mas foi Francisco quem fez da proteção ambiental um dever de fé. Como afirmou seu biógrafo Austen Ivereigh, “ele não só tornou possível ser católico e ambientalista – ele tornou isso obrigatório”.
Laudate Deum: o alerta final
Em 2023, Francisco publicou Laudate Deum, uma continuação mais urgente de sua primeira encíclica. No texto, denuncia que a Terra está próxima do “ponto de ruptura” e convoca os fiéis a adotarem um estilo de vida mais responsável, rompendo com os padrões ocidentais baseados no consumo e no lucro imediato. Defendeu inclusive os manifestantes climáticos, dizendo que suas ações preenchem um espaço deixado vazio pela sociedade.
Fé, ciência e justiça interligadas
Francisco também buscou construir pontes entre fé e ciência. Em 2021, reuniu cientistas e líderes religiosos de diferentes tradições no Vaticano, antes da COP26, para afirmar que a crise climática exige unidade espiritual e científica. Recebeu ativistas como Greta Thunberg, e líderes como John Kerry, ex-enviado especial dos EUA para o clima, que o chamou de “uma das vozes mais fortes por ação concreta”.
O Papa alertou que destruir a criação é um pecado – uma transgressão espiritual que afeta o futuro da humanidade. E reforçou que é preciso “ouvir o grito da Terra e o grito dos pobres”, conectando o sofrimento ambiental às injustiças sociais, especialmente nas comunidades mais vulneráveis.
Um legado que transcende fronteiras
Mesmo diante de críticas internas e resistência de setores conservadores da Igreja, especialmente ligados à indústria dos combustíveis fósseis, Francisco conseguiu construir uma “Igreja verde” que influencia governos, ONGs e comunidades católicas em todo o mundo. O movimento Laudato Si’, criado para impulsionar ações ambientais entre os fiéis, é um dos frutos duradouros desse esforço.
Esperança em tempos sombrios
O legado do Papa Francisco se estende além das fronteiras do catolicismo. Ele plantou uma semente poderosa: a de que não haverá prosperidade compartilhada sem paz com a natureza, e que proteger o planeta é também proteger a dignidade humana.
Enquanto o mundo se prepara para a COP30 no Brasil, em novembro de 2025, muitos sentem a ausência daquele que, mesmo com saúde frágil, talvez fosse o único líder espiritual com autoridade suficiente para unir ciência, fé e ação climática em um só chamado. Sua ausência física será sentida, mas suas palavras e seu exemplo permanecerão como guia.
“Humanidade é comunidade. E quando uma comunidade é abandonada à pobreza, à fome, aos desastres climáticos e à injustiça, toda a humanidade se empobrece – material e moralmente, em igual medida.” – Papa Francisco.

Fernanda de Carvalho é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Mestre em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também estudou na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo de Vida Selvagem. Dedicou parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental na Suzano S/A e como Consultora de Comunicação da Ocyan S/A. É conhecida no setor florestal pelos artigos publicados nos blogs Mata Nativa e Manda lá Ciência.