O que torna as mudanças climáticas um risco sistêmico?
A mudança climática é considerada o maior risco sistêmico da atualidade. Isso porque seus efeitos se estendem por todos os setores, geografias e populações. Trata-se de um fenômeno irreversível, não linear e de alcance global. Não estamos lidando com uma crise localizada ou pontual, mas com uma transformação profunda no equilíbrio do planeta, que impacta diretamente a economia, a saúde pública, a segurança alimentar e a estabilidade política.
Por que os riscos climáticos são tão difíceis de prever?
O maior desafio é que o risco climático é sem precedentes. Ele não pode ser analisado apenas com base em dados passados, pois envolve eventos futuros com alta incerteza. Existe uma certeza desconcertante: algum impacto virá — seja por falha em reduzir emissões (riscos físicos), seja pelas mudanças estruturais necessárias para uma economia de baixo carbono (riscos de transição).
Riscos físicos e de transição: dois lados da mesma moeda
- Riscos físicos envolvem eventos extremos, como enchentes, secas, incêndios e aumento do nível do mar, que impactam infraestruturas, cadeias produtivas e populações vulneráveis.
- Riscos de transição derivam das transformações necessárias para mitigar as emissões: regulamentações ambientais, novas tecnologias, mudança no comportamento do consumidor e desvalorização de ativos com alta pegada de carbono.
Como as empresas devem reagir?
Toda organização precisa incorporar os riscos climáticos em sua gestão de riscos corporativos. Isso significa integrar esses riscos em áreas como:
- Crédito
- Mercado
- Operações
- Governança
A administração de riscos climáticos exige planejamento estratégico, ferramentas de análise de cenários e, principalmente, uma cultura organizacional voltada à sustentabilidade.
As etapas da gestão de riscos climáticos
Um modelo eficiente de gestão climática segue cinco passos:
- Identificar os riscos físicos e de transição relevantes para a empresa.
- Mensurar esses riscos por meio de métricas como intensidade de carbono por receita, ativo ou funcionário.
- Gerenciar riscos com base em tolerância definida, alinhados com metas climáticas.
- Monitorar periodicamente os impactos da empresa sobre o clima e vice-versa.
- Divulgar os dados em relatórios.
A importância da análise de cenários climáticos
A análise de cenários ajuda a visualizar como diferentes trajetórias climáticas podem afetar uma empresa. Desde flutuações nos preços do carbono até alterações drásticas na demanda por produtos, esse tipo de análise serve para:
- Planejamento estratégico
- Desenvolvimento de produtos
- Tomada de decisão em investimentos
- Definição de metas e compromissos climáticos
Começar com perguntas simples é a chave:
O que acontece com meu negócio se a temperatura global subir 2 °C?
E se o preço do carbono dobrar nos próximos 10 anos?
Por que o tempo é agora?
A ciência é clara: o que fizermos nos próximos 3 a 5 anos será determinante para limitar os impactos das mudanças climáticas. As decisões corporativas tomadas hoje definirão o risco financeiro e operacional de amanhã. Adiar ações significativas significa maior custo futuro, perda de ativos, reputação e valor de mercado.
O papel do conselho de administração e gestores de risco
O conselho de administração precisa estar diretamente envolvido. Não se trata apenas de responsabilidade socioambiental, mas de dever fiduciário. Ignorar o risco climático pode representar omissão na governança corporativa.
Profissionais de risco devem liderar esse movimento, promovendo capacitação interna e desenvolvendo taxonomias comuns sobre clima, integrando esse tema em relatórios e na estratégia da organização.
Conclusão: clima é risco de negócio
A mudança climática não é apenas uma questão ambiental — é uma questão financeira, econômica e estratégica. Empresas resilientes e líderes em suas áreas já estão tratando o clima como parte central da tomada de decisões.
Aqueles que ignorarem esse chamado correm o risco de ficar para trás em um novo mundo em transformação.

Fernanda de Carvalho é Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Mestre em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também estudou na Technische Universität München, Alemanha, onde cursou disciplinas do Mestrado em Manejo de Recursos Sustentáveis com ênfase em Silvicultura e Manejo de Vida Selvagem. Dedicou parte da sua carreira a projetos de Educação Ambiental e pesquisas relacionadas à Celulose e Papel. Trabalhou com Restauração Florestal e Formação Ambiental na Suzano S/A e como Consultora de Comunicação da Ocyan S/A. É conhecida no setor florestal pelos artigos publicados nos blogs Mata Nativa e Manda lá Ciência.